terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O Milton Nascimento não pensava em nós


Assisti ao programa “On The Record” do canal Bis com John Mayer, um programa de entrevistas apresentado por Touré Neblett.

Gosto do John Mayer como guitarrista e bluesman, ele me faz às vezes pensar que estou ouvindo um blues pop e clássico texano ao mesmo tempo, e com requintes de Stevie Ray Vaughan. A carreira Pop de John Mayer não me agrada muito, mas isso é apenas a minha opinião, o cara é uma celebridade, deve estar certo e eu errado seguramente. Que bom que não sou o dono da verdade, o mundo fica bem melhor assim...rsrsrs

Voltando ao assunto, gosto muito de ouvir compositores falando sobre suas inspirações, gente que compõe falando no que pensava enquanto compunha, ou o que pensava antes de compor. Gosto muito de filosofar sobre o acaso que levou o poeta a descobrir sabedoria e transformá-la em arte digerível para a comunidade de admiradores. Gosto da contribuição que o compositor dá à humanidade através dos devaneios de sua reflexão. Gosto de gente que compõe e fala com as minhas emoções e com a minha razão ao mesmo tempo. Gosto de gente que sente o que fala, tanto quanto pensa antes de falar. Pra mim, a inteligência de quem escreve, é tão importante quanto a emoção contida no que escreveu. Pra dizer a verdade só me emociono com o que entendo. Recomendo este programa com John Mayer e o programa com David Gray, outro compositor e cantor britânico que admiro.

Não sou o tipo de cara que procura sons, tons ou palavras que o povo goste de ouvir, estou sempre à procura de melodias e palavras que possam expressar o que eu quero falar, independente de quem vá ouvir.

Nesta entrevista, John Mayer disse algo com o qual me identifiquei. Touré perguntou se a vida e as coisas que o rodeavam, faziam parte do seu universo inspirador, John Mayer disse que sua humanidade, seus erros e acertos, enfim, tudo, fazia parte de seu universo de inspiração, tudo vem da observação e do coração, disse ele: “Se você fechar o seu coração, você não será mais capaz de fazer música, apenas fazer gravações”.

Achei isso fantástico!

Nossa música cristã está amparada por um sem número de congressos que ensinam “adoradores” a “adorar”, que ensinam líderes de louvor a levar o povo a louvar. Não sou contra isso, absolutamente, tudo é necessário, mas sinto falta da filosofia da coisa. Temos uma prateleira cheia de opções musicais pra nossa Igreja cantar no domingo, são milhares, ou milhões de CDs lançados todos os meses, e sinto falta de algo que me soe novo.

Alguém faz uma música sobre “Estar apaixonado por Jesus”, não faço juízo de valor, julgo ter sido uma experiência genuína individual de alguém, mas porque fez sucesso, o Brasil é invadido por uma avalanche de músicas sobre estar apaixonado. Uma música sobre a Chuva de Deus faz sucesso, de repente, é enchente de Manaus a João pessoa, de Brasília a Porto Alegre, toda Igreja grava um DVD sobre a chuva. Uma música sobre Restituição, e todos os compositores do Brasil recebem a mesma inspiração no dia seguinte.

Estamos em busca da inspiração perdida ou da fórmula do sucesso?

O sucesso não é pecado, mas ele vem depois da arte feita, não é produzido por antecipação.
Quero ser Lennon/McCartney, e não Fernando/Sorocaba. Nada contra o sertanejo nem contra dupla em questão, apenas nomes que me vieram à mente, mas quero ser inspirado pelo que me faz sentir, entender e viver, e não inspirado pelo sucesso de alguém pra ter o que o “bem sucedido” tem.

No mundo inteiro há compositores tentando achar a fórmula do sucesso, o elixir da aceitação pública, o caminho místico que leva ao Grammy, cada dia uma tentativa nova acontece. O pior é que dá certo, o povo gosta!!!

Lererê Lererê, é o tchan, eu quero tchum eu quero tchá, tchêtchererêtchetche fulano de tal e você!
Eu entendo...todos querem dar certo...vá lá...normal.

Meu consolo matemático é que por mais longeva que seja a manifestação, um dia o limite estatístico das combinações possíveis do alfabeto ocidental colocará um ponto final nessa onomatopeia. É a redenção que espero. Se não viver pra isso, pelo menos usei e abusei da liberdade de escolha individual do ser humano.

Eu sei o que você vai me dizer, o mundo musical não existe pra mim, a música é de todos, eu sei, é apenas o meu direito de falar e ouvir. Quem mandou acessar este blog...rsrsrsrs

Não estou dizendo que sou bom, ou certo, e o resto errado, ou ruim, apenas aqui quero revelar como penso e sinto, e de alguma forma compartilhar com alguns, o que julgo ser importante. Não sou o dono da verdade, ao contrário do rei Roberto, esse cara não sou eu!

É comum ver na terra gente que tenta achar a fórmula, é normal acontecer com quem só quer a fama, tudo bem...mas não conosco! Não com a gente, não com quem tem uma contracultura, não com quem tem o evangelho, não com quem deve apresentar a Deus um culto racional, não com quem deveria pensar pra falar e sentir pra compor. Não podemos nos auto-plagiar, não estamos procurando o que dá certo, já temos o que dá certo, precisamos desenvolver a nossa arte.

Não sou contra o mercado, nem contra o sucesso, nem contra o comércio, eles são amorais, imoral é o homem, é quem se move neles, e do jeito que se move neles.

“Se você fechar o seu coração, você não será mais capaz de fazer música, apenas fazer gravações”.

Penso que temos muitas gravações.
Penso que tem muita gente gravando e poucos compondo.
Penso que o mundo não sabe, mas espera pelo que temos a dizer.
Penso que temos muito a dizer
Penso que temos que pensar antes de dizer
Penso que temos preguiça de pensar
Não quero pensar que somos incapazes de pensar
Penso, logo existo.
Se penso mal sou uma aberração da existência
Mas se penso bem, penso que pode existir uma saída pra nós.

Certas canções que ouço
Cabem tão dentro de mim
Que perguntar carece
Como não fui eu que fiz
Certa emoção me alcança
Corta minha alma sem dor
Certas canções me chegam
Como se fosse o amor
Contos da água e do fogo
Cacos de vidas no chão
Cartas do sonho do povo
E o coração do cantor

Vida e mais vida ou ferida
Chuva, outono ou mar
Carvão e giz abrigo
Gesto molhado no olhar

Calor invade arde queima
Encoraja amor
Invade arde carece de
Cantar amor . . .

- Cê tava cantando pra gente Milton?...Tava pensando em nós?...Não?...Que pena...

15 comentários:

  1. Fico feliz de saber que ainda existem artistas (no sentido verdadeiro da palavra) que se preocupam apenas em fazer arte, independente de sucesso ou fracasso. Até porque o conceito de "fracasso" não é absoluto.

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  2. Boa tarde Zé. De uma maneira muito simples, porém honesta, também faço música. Também penso que ser coerente, sincero consigo mesmo, com o que se produz enquanto arte é o que deve ser feito. Ainda mais quando se faz música cristã... Há muito de necessário, relevante e divinamente libertador para se cantar, o que infelizmente, muitos, dos ainda anônimos aos "grandes nomes da gospel", pouco há de mensagens relevantes, sinceras... Continue tocando o que toca o seu coração meu irmão. Um grande abraço. Graça e paz.

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  3. Obrigado galera pelo comentário, há muito o que fazer e conversando, trocando idéias, a gente cresce

    Abraço

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  4. Muito profundo, Zé! Parabéns! Acho que deveria ficar de molho de vez em quando, pq saem coisas maravilhosas daí. Deus abençoe sua mente, vida e familia! Renatta

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  5. É isso mesmo Zé, essa troca de idéias é muito produtiva e instrutiva. Abraços e melhoras.

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  6. Coisa interessante aconteceu hoje. Agora, pra ser mais exato.
    Enquanto tento compor uma canção, vejo o link dessa expressão tão propícia.
    Penso que Milton pensou em si, e em quem tenha o coração aberto para a música. Que pensou naqueles que sentiram o mesmo que ele em Certas Canções.
    Minha canção parece estar indo bem, mas indo bem para mim, porque vem de mim. Tomara que seja como Certas Canções que ouvimos ... mas não tão igual assim rsrs

    Valeu Zé!

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  7. Paulo SS - É uma dádiva compor algo que uma outra pessoa receba como sendo o seu próprio sentimento, como diz a canção, são as "cartas do sonho do povo"

    Algumas vezes acertei, mas não se controla isso, a gente sente e simplesmente acontece. Talvez nossa sensibilidade em ler e expressar as coisas da vida, nos ajude a diminuir a distância.

    Valeu

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  8. Li um comentario de outra pessoa colocando que o MIlton afirmava que recebe entidades... agora fiquei curiosa ...paz

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  9. Gostei muito Zé do seu texto. Me sinto assim muitas vezes, frente a tantos apaixonados, compondo sobre a chuva, fogo, nuvem, etc....
    Mas quero te dar uma dica para tentar tirar este sentimento teu. Volte seus olhos para o que já se fez no passado, de uma galera boa demais de música e de poesia, como Vencedores por Cristo, Sérgio Pimenta, Nelson Bomilcar, João Alexandre, Jorge Camargo, Jorge Redher, Stenio Marcus, Cintia e Silvia. E uma galera nova aí que está no mesmo time como Silvestre Kulhman, Tiago Grulha, Gladir Cabral, Crombies, Carlinhos Veiga, Expresso Luz, e muitos outros. Garanto que em uma rápida pesquisa no Google vc acha muita coisa deste pessoal. Ouça e pelo remedie um pouco os ouvidos. Paz, Leandro

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  10. Raíssa Branco

    Não quis entrar no assunto, e não foi a intenção entrar no âmbito espiritual, estou olhando a capacidade pessoal do compositor e sua sensibilidade. Estou falando sobre a arte de expressar sentimentos e raciocínios em forma de música.

    Se vamos falar de algo espiritual, vou dizer o que penso. Acho uma vergonha pra nós evangélicos dizer que alguém recebe entidades pra compor. Como se este fato desmerecesse o que foi composto.
    Se isso for levado em consideração, deveríamos nos envergonhar, porque se no mundo pessoas recebem entidades pra compor e fazem coisas que admiro, porque então os filhos de Deus que têm o Espírito Santo habitando em seu ser ainda fazem canções tão aguadas?
    Então as entidades no mundo fazem mais do que o Espírito em nós????

    Não vamos entrar neste campo. Deus inspira os seus, e o inimigo inspira os dele, mas quem deve ser sensível, quem pega na caneta e na viola e solta o gogó, é o compositor, quero falar dele.

    Valeu pela pergunta, adoro filosofar neste campo, a gente cresce muito

    Obrigado por visitar o blog e contribuir com o debate


    Zé Bruno

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    1. Valeu Zé... na verdade concordo com vc e cresço muito com suas experiências... também nem quiria entrar nessa questão, apenas li o que alguém postou como se fosse uma afirmação do compositor mesmo... obrigada... vc é meu Pastor online rsrs

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  11. Paz do SENHOR JESUS. Me identifiquei muito com sua resenha e achei providencial para esse tempo tão difícil na música sacra ou "gospel", como queira.
    Componho desde a tenra idade e por um momento devido a habilidade comecei a fazer "canções encomendadas". Bastava um tema, uma história, um motivo, pronto, lá estava uma nova música. Não gostava muito da ideia, mas pela força da obrigação "$" rsrs, assim fazia.
    Nasci de novo pelo Espírito Santo aos 21 anos. Tudo mudou, a inspiração, motivo, ética e valor nas canções, a base bíblica sem tirar o valor da experiência e poesia, precisei me remodelar.
    Lógico que um tema pode ser interessante, uma história, mas nada melhor do que aquilo que brota, que vem do fundo, da reflexão, comunhão, intensa vivência. Talvez ninguém ouça ou dê atenção por estar fora da moda, das frases e temas de efeito, tudo bem, você mesmo ouve, e o mais importante, seu Criador ouve, e vê a verdade no íntimo. Faço música pra DEUS e pra minha verdade, não busco agradar a outros ou entretê-los, isso pode acontecer, toca-los já seria muito bom.
    Certo cantor chegou a me pedir que retirasse algumas frases de uma música minha por não ser "politicamente corretas" no meio evangélico. Não...!! Perdi a chance de ter uma música gravada. Mas como retirar aquilo que na bíblia sagrada é tão latente e pontual. Fico com a bíblia, fico com meu inspirador, o Santo Espírito, fico com DEUS, quem desejo agradar com minhas canções, fico com JESUS o qual ainda que se escrevessem todas as canções, jamais conseguiríamos expressar toda a poesia e beleza de Sua obra redentora.

    (Declaração de amor) Por Fausto Vieira
    É uma declaração de amor...Pra lhe dizer que o meu viver entrego em Tuas mãos!
    Por gratidão ao grande amor, sou Teu meu SENHOR.
    Faça Tua vontade em mim...Pode me usar e me provar...Não vou fugir da cruz.
    Pois se JESUS morreu por mim...Eu morro por Ti.
    Me tirou de um lamaçal...Colocou meus pés na rocha...
    E pra lutar contra o mal...Pôs novo canto em minha boca.
    SENHOR! Como agradecer...Nem com meu viver...
    Vou retribuir o que fez por mim.
    Vou te respeitar e a Tua palavra usar...Pra levar o amor...
    A quem DEUS criou.
    Sempre te amarei, louvarei, bendirei...Com meu coração.
    Tú És DEUS de amor que a JESUS mandou trazer Salvação.

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  12. Zé Bruno entendi e concordo com suas colocações, sou guitarrista nas horas vagas, e ñ aguento mais muleques copiando steve vai e cia...curto muito um cara chamado Alex Hutchings,por encontrar notas que diferem das melodia repetitivas dos outros...ouço "tem certos dias em que penso em minha gente, e sinto assim todo meu peito se apertar, igual a como qnd passo em um subúrbio, eu muito bem vindo de trem de algum lugar, são casas simple...etc..." e rapidamente sinto o sentimento do autor e me transporto ao local. Enquanto no gospel hits, ficamos ouvindo faz chuver (mas chover o q?); correndo, saltando, pulando, gritando (por...) apaixonado, quero ter um romance com Deus (hein!?!?). Tem gente tomando guaraná Jesus(do Maranhão) e cantando sobre isso, só pode...rsrsrs.Gosto de louvores antigos por suas letras, gosto de Resgate pq fico curioso em ouvir a letra, gosto de white cross...joão alexandre, mas ouço tmb "naquela mesa ele contava histórias e hj na memória..." Abraços 4all.

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  13. Ola amigo, sou compositor e as vezes acho que estou sozinho no processo de pêr melodia no momento que vivo ou numa história que alguém me contou. Gostaria muito de te mostrar algumas de minhas canções.
    Forte abraço e obrigado pelo texto.

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  14. Ah meu Deus, que da hora, esse texto é d+++++++.

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