Nunca estou em casa aos domingos de manhã,
mas hoje, devido ao meu repouso pós-operatório (meu ombro tá novinho agora),
aqui estou eu assistindo o mundial de Skate Vertical. Eu me lembro de quando o
esporte surgiu, os primeiros skates chegavam ao Brasil... faz tempo... eu era adolescente
e a Reportagem do Fantástico falava em surf com rodas!
Meu primo Zé ganhou um Skate e eu fiquei
vidrado. A onda eram os Skates Torlay, quem tinha um era o cara. No Brasil a
Bandeirante, fábrica de triciclos e tico-ticos, fazia um skate tupiniquim que
era o nosso sonho de consumo, eu e o Jorge chegamos a ter um usado, que
alegria, um skate Bandeirante...era nacional, mas e daí?
Eram os primeiros passos de uma diversão de
garotos que se transformaria num esporte de alta performance com um circuito
mundial badaladíssimo.
Eu nunca fui skatista, não foi o meu esporte,
mas nessa manhã fiquei paralisado diante da TV, eu estava diante de uma cena
rara. Se os repórteres não dissessem nada, ninguém imaginaria que aqueles meninos,
colegas de skate são na verdade atletas alta performance. O cenário não é um
cenário de competição de alta performance.
Esportes que exigem alta performance dos
atletas são esportes incríveis, plasticamente lindos de se ver e chatíssimos de
se viver. Atletas de alta performance precisam de psicólogos pois há muita
cobrança. Treinos estressantes, técnicos estressantes, reportagens estressantes
de uma imprensa estressante que cobra mais que a torcida. Uma torcida estressante,
apaixonada e doente, que por amor ao esporte se torna violenta!
Patrocinadores querem resultados, a imprensa
se mete até na vida pessoal dos atletas. Muito dinheiro envolvido, cada atleta
precisa se preocupar com seu rendimento, seu contrato, sua imagem, sua
rentabilidade. Empresários pensam em suas carreiras e ganham milhões com esses
atletas. Talvez um atleta assim, sem perceber, destrua o próprio sistema
nervoso e a autoestima em busca de felicidade, um contra senso. Torcedores se
matam, e o país passa a odiar aqueles que perderam um pênalti, ou não
conquistaram uma medalha, e por fim estragaram a vida da nação!
Pior ainda se o adversário for argentino, meu
Deus, isso aumenta nossa vergonha e tira de nós o direito de fazermos piadas
demonstrando ser uma raça superior aos outros seres humanos que vivem num
limite territorial distinto.
Somos Hitler tentando provar a superioridade
da raça ariana diante da incontestável superioridade de Jesse Owens, um negro
que apenas corria por esporte, mas carregava sobre si a responsabilidade de
demonstrar que os arianos seriam subjugados pelo Black Power. Humanos se autodestruindo
emocionalmente pra recuperarem as perdas da vida subjugando outros seres
humanos através do esporte. Que beleza!
Era pra ser só um esporte!
Os garotos do Skate me pareceram tão
distantes disso... A área dos atletas era um pequeno espaço onde todos
conviviam juntos, aliás eles se conhecem! Parecem até que torcem uns pelos
outros. Eles se cumprimentam a cada volta, vibram uns com os outros, e lamentam
quando vêm um adversário errando uma manobra, parece que amam as manobras, amam
ver os twists, os “360º.”, os saltos radicais uns dos outros. O atleta que
falha e cai, lamenta, dá risada e é aplaudido por uma multidão de garotos
também skatistas que vibram a cada manobra, tudo ao som de um bom, e velho
Rock. O comentarista Sandro Dias, também skatista, se delicia com cada um de
seus amigos que competem. Pais e mães dos competidores incentivam e acompanham
seus filhos, ninguém é mais, ninguém é menos, ninguém é superior e ninguém é
careta.
Do estúdio, Ivan Moré pergunta a Tiago
Leifert que está ao vivo na rampa, se há animosidade ou rincha entre os
skatistas e Tiago diz que absolutamente não, então a câmera mostra a
brincadeira entre eles e sua amizade.
Nomes de rapazes talvez desconhecidos do
universo da maioria de nós telespectadores, como Rony Gomes, Mitchie Brusco,
americano de 15 anos, Pedro Barros, Bob Burnquist, Andy Mcdonald, Jimmy Wilkins
ou Marcelo Bastos me inspiraram e acho que me confirmaram uma lição – É preciso
saber viver.
Enquanto isso alguns canais vizinhos no mesmo
instante, e ao longo da semana, transmitem o evangelho de alta performance.
Pessoas são ensinadas a se desgastarem pra serem felizes. É a fé de alta performance,
fé de maior rendimento. Frases como: “Creia mais, se sacrifique mais, doe mais.
Tome posse do que quer, não aceite a derrota, oferte 10% dos 100 que você quer
ganhar, profetize vitória a todo tempo, faça vigília, suba no monte, desça no
vale, faça Deus ficar te devendo!!! Você só será feliz quando Deus fizer o que
você quer!”
Uma fé de alta performance faz Deus melhorar
sua performance. Entendeu?
“Esfregue mais a lâmpada e o gênio da lâmpada
te permitirá 3 pedidos, talvez 12 se ele estiver de bom humor, ou 11 se ele te cobrar
o pecado de Judas...”novesfora”... você ainda estará no lucro.”
Meu Deus, que saudade do skate Bandeirante...
A Igreja da TV se tornou um bom motivo pra
selecionar canais de qualquer outra coisa nos “preferidos” do controle remoto.
Esses garotos me disseram que a vida é bela.
Que tudo que Deus fez é bom. Somos humanos, somos irmãos, somos criaturas de
Deus.
O que estamos fazendo com o mundo que Ele nos
deu? O que estamos fazendo com a diversão? O que estamos fazendo com o esporte?
Ciclismo, um sinônimo de saúde, agora faz
atletas se encherem de anabolizantes e drogas, perdendo a saúde pra ganhar mais
dinheiro? Que loucura!!!
E mais - O que estamos fazendo da fé? Virou
uma corrida? O prazer de celebrar a Deus se transformou num caos? A alegria de
viver com Deus deu lugar a odiar a Deus por não nos dar a vida que queremos ter
longe dele?? Quem é mais ungido? Quem tem mais poder? Quem faz mais milagres?
Qual Igreja dá mais rentabilidade de bênçãos em troca da sua fé?
Alta performance...que loucura!!
Não sei se o cenário do circuito mundial de
Skate é o paraíso, talvez não seja, tive apenas uma impressão hoje, mas
agradeço a Deus pelo que vi. Adultos ou não, atletas ou não, o que importa é
que vi crianças se divertindo.
Todos os skatistas têm patrocínio, roupas,
viagens e altos salários, mas me deram a impressão de que sempre serão felizes
por apenas ter uma rampa pra curtir mais uma volta, aliás, me deram a impressão
de que já eram felizes antes do profissionalismo, curtindo o skate nas praças
onde de forma precária e interesseira o poder público ainda mantém rampas mal
conservadas.
Bem aventurado o que precisa de pouco pra ser
feliz. Mais bem aventurado ainda o que percebe que Jesus é tudo, e infinitamente
mais do que o nosso pouco ou o nosso muito.
Triste ver que aquele ambiente juvenil
deveria ser achado no seio da Igreja, mas sei que em muitas Igrejas ele ainda é
achado, porém as que aderiram ao caminho da mídia parecem andar em outro
sentido.
Ainda bem que Deus não precisa das
instituições “Igreja” pra dar alegria de viver a um garoto.
De alguma forma, o que estas instituições não
conseguem promover dentro de quatro paredes, eles encontraram sobre quatro
rodas.
Num mundo capitalista, competitivo e de alta
performance, esses garotos encontraram vida, quero falar pra eles do evangelho
da salvação. Quero falar pra eles do Pai que criou tudo, do Filho que nos salva
e do Espírito que habita em nós. Quero que eles continuem a me ensinar a ser
simples.
Quero ser parte de uma Igreja que vive a vida
de Deus em comunhão, e que quer ensinar e levar essa vida aos homens.
Acho que esses garotos são o tipo de gente
que precisamos ser, são os missionários urbanos que precisamos ser pra
demonstrar a vida de Deus ao mundo, e são a campainha que deve nos acordar
todos os dias.
Vou comprar um skate Bandeirante, tipo peça
de museu mesmo, e colocar na parede do meu estúdio pra nunca me esquecer do que
vi hoje.
Bem que a Bandeirante poderia voltar a fabricar
esses modelos, eu confesso que desejaria ser um representante comercial só pra
distribuir skates na Rua Conde de Sarzedas... bom, acho melhor não...eu morreria
de fome...
Também assisti o programa e fiquei impressionada com o garoto americano de 15 anos, que leveza com o skate! Me lembrei de um amigo de adolescência que hoje é missionário e está no Egito. O nome dele é Eduardo Franchi e ele monta uma pista de skate por onde passa e daí começa a evangelizar https://www.facebook.com/edufranchi?fref=tsa
ResponderExcluirobrigada
Sandra Bastos
Bela analogia do Pastor. Mesmo compreendendo o texto, assim como sua intenção, tenho em mim um duplo sentimento, ambíguo que seja. Sinto TRISTEZA, mas ao mesmo tempo ALEGRIA.
ResponderExcluirTRISTEZA: pelo evangelho pregado nas TV's e rádios, esses com maior participação de horário e de maior representação midiática, alguns até com TV's e rádios próprios mas que deixaram de representar o evangelho da verdade. O puro. O simples.
ALEGRIA: por saber que um pastor realmente se preocupa com a igreja protestante hoje, esse é apenas exemplo de UM pastor, temos muitos outros preocupados com a insanidade pregada hoje nos PALCOS da igreja, palcos que outrora foram altares, mas se tornam cada vez mais balcão de negócios, trocas e cobranças, assim, como uma empresa, um banco, uma instituição capitalista. Feliz fico pela luta dos pastores dignos que ainda dão maior dignidade à palavra, que ensina, exorta e principalmente, SALVA . O que dói no corpo afeta a alma e mta alma agora perece por ñ conhecer a Deus. Mas o evangelho da verdade não será jamais vencido pelos que maltratam a Bíblia, reinventam o evangelho, inventam fórmulas e visões. Não é mais necessário que o véu seja rasgado, Ele já o fez, já está consumado. A obra é completa, perfeita. Somente deve ser seguida e não pode ser molestada.
Oi Sandra, tudo bom? Valeu Ovelha Ácida, obrigado pelos comentários
ResponderExcluirZé
Zé, não me lembro do skate bandeirantes,mas sempre acompanho as competições pois alem de gostar de esporte admiro muito a simplicidade e a amizade que esses garotos têm, realmente em todas as coisas existe algo de bom apenas devemos ser mais simples e aprender a retê-las.
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