terça-feira, 26 de março de 2013

Disposição e Compaixão



Estava pensando na passagem em que Jesus entra na cidade de Naim e se depara com um cortejo fúnebre. Uma mulher viúva está sepultando o seu único filho. O texto diz que Jesus se compadeceu dela e por isso tocou o menino ressuscitando-o e o restituiu à sua mãe.

Sei que a compaixão não é um sentimento exclusivo de nós cristãos, mas entendo deva ser inerente. Qualquer pessoa no mundo pode se compadecer de seu próximo e também existem pessoas que não tem compaixão alguma. No mundo posso encontrar gente de compaixão e gente indiferente, mas entre nós, corpo de Cristo, a compaixão não pode faltar.

Vivemos num mundo de indiferença e individualidade. O mundo pode ser assim, mas nós não podemos ser assim.

Fiquei pensando no sentimento de Jesus. Ele se compadeceu porque era uma mulher viúva, ou seja, já havia sepultado o marido, e agora sepultava o seu filho único. A vida é dura. Pessoas sofrem todo dia em todos os lugares.

Por conhecer a situação daquela mulher, Jesus se colocou no lugar dela, no lugar de alguém que não apenas viveria na solidão, mas na solidão somada à memória da perda de seu marido e seu filho.

Quem conhece se compadece. 

O problema é que não temos tempo pra nos envolver com o problema de ninguém. Não quero dizer que esta seja uma regra, sei que tem gente que não se importa com ninguém, mesmo conhecendo a dor de seu próximo. Mas falando de gente que tem Deus dentro de si, falando de gente sensível ao que acontece ao seu redor, acho que posso estar certo.

Precisamos nos dispor a conhecer, a entrar na vida das pessoas, a penetrar o raio de ação, sentir o coração de quem sofre. No PAM deste semestre, ouvi uma frase do Ziel Machado que tem tudo a ver com isso:

“Pastorear é habitar a dor alheia”

Sabemos o que é fazer o bem, só resta saber se fazemos porque é nosso papel fazer o bem, ou porque nos sentimos movidos a fazer o bem.

Jesus entrou na nossa vida, entrou no nosso mundo, viveu a nossa realidade. Jesus habita em nós, conhece tudo dentro de nós, sabe bem o que passamos. Ele se dispôs, ele se humilhou. 

Disponhamo-nos a habitar a dor alheia, compadeçamo-nos de quem está ao nosso redor. Sejamos Igreja, sejamos o corpo cuja cabeça é Jesus. O que ele pensa e sente, pensemos nós e sintamos nós.

quarta-feira, 6 de março de 2013

O Remetente e o Destinatário



Não há nada mais “Mr Bean” do que enviar um cartão postal para si próprio e ficar feliz por ter recebido.  Deve ser engraçado você fazer uma lista de elogios e de palavras de incentivo a você mesmo e enviar para o seu próprio email, e depois mostrar para os amigos o elogio que foi recebido como se não tivesse sido feito por você mesmo. Pior ainda será se você chorar e se emocionar por ter recebido a carta ou o email, sentindo-se tocado pelas palavras lindas que foram escritas, como se não fosse tudo feito por você mesmo! Seria tão tolo quanto ridículo.

Jesus contou uma parábola interessante sobre o fariseu e o publicano, e disse:


Lucas 18.10 Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um fariseu e o outro, publicano. 11 O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano.

O fariseu orava de si para si mesmo

O fariseu orava “de si para si mesmo”. Não havia comunicação com Deus, havia uma coincidência, o remetente e o destinatário eram a mesma pessoa.

Um certo orgulho, uma certa prepotência e autossuficiência estavam expressas ali naquela oração.


Olhamos pra essa parábola e achamos que o fariseu em questão agia com hipocrisia, porém isso é muito comum nos dias de hoje.


Muitas músicas hoje fazem as mesmas afirmações, somos gente que canta de si para si mesma o tempo todo. Eu já fiz isso, confesso, perdão Senhor...

Hoje penso em tudo que canto. Coisas tipo “Eu sou vencedor”, “Vou conquistar”, “Vou avançar”, “Deus vai fazer isso ou aquilo por mim”, “Sou importante para Deus”, “Meu testemunho vai impactar o mundo”, me soam como uma música de autoajuda, e não um momento de louvor.

Costumamos chamar isso de louvor, mas o que deveria ser algo vertical, ou seja, de nós para o nosso Deus, na verdade é horizontal, do homem para outro homem, e na maioria das vezes confundindo o remetente com o destinatário, de si para si mesmo.


Entendo que às vezes cantamos versos das profecias de Deus a Israel, e nos enxergamos ali, compreendo que ao cantar o que Deus faz por nós exaltamos seu poder realizador.

Há canções muito lindas que contém testemunhos pessoais que glorificam a Deus. Mas é preciso reconhecer que muitas vezes cantamos que Deus faz coisas que ele não faz, sem saber se ele vai fazer, ou cantamos coisas que ele diz e que na verdade não disse, ou seja, mandamos a carta para o nosso próprio endereço. Colocamos na boca de Deus o que gostaríamos que estivesse lá. Na verdade canta-se de si para si mesmo. Vitórias e triunfos que emocionam, fazem chorar e levam o povo a uma catarse coletiva, mas Deus é apenas um espectador externo, nada chega a ele. Sai da boca do homem para o coração do próprio homem.


Tudo bem, de vez em quando, uma musica ou outra, vá lá, mas o tempo todo...


Valei-me Paulinho da Viola...


“Tá legal, eu aceito o argumento...

Mas não me altere o samba tanto assim

Olha que a rapaziada tá sentindo a falta

De um cavaco, de um pandeiro e de um tamborim...”


Não faça do momento de exaltação a Deus, apenas um momento de ativação motivacional para você mesmo.


E quanto às profecias? A mesma coisa.


Fundamentalmente quem profetiza fala algo que vem de Deus para o homem. O profeta recebe algo que não é dele, não partiu dele, ele é apenas o mensageiro. O pregador prega o que leu e aprendeu de Deus, na palavra de Deus e nas experiências de vida proporcionadas e guiadas por Deus.

Hoje o mais comum é ouvir palavras de ordem como “Profetize”, ou seja “fale o que você quer, que Deus vai fazer por você”.


Vemos na Bíblia profetas que receberam algo de Deus e resistiram em falar. Hoje o homem quer profetizar o que quer e Deus precisa resisti-lo


Quem manda em quem? Deus manda e o homem profetiza? Ou o homem profetiza o que quer, e Deus o obedece?


O remetente e o destinatário infelizmente em muitas situações têm sido a mesma pessoa. Pessoas são ensinadas a profetizar para si mesmas, ou virar para o irmão ao lado e profetizar o que quiser. O pior é que se emocionam, choram, eu já fiz isso!!! Deus do céu! Não foi Deus, foi o homem!!


Se pudermos profetizar o que quisermos e assim obrigar Deus a realizar o que profetizamos, então qual a razão de se ter um Senhor?

Os servos já dão conta do recado. Vamos dar férias para Deus!


O que me entristece é ver uma multidão de feridos e decepcionados contra Deus. Cantaram, profetizaram e creram, e Deus não estava lá. Estão decepcionados contra Deus que não tem nada a ver com isso. Oraram de si para si mesmos. Cantaram de si para si mesmos, profetizaram de si para si mesmos, e Deus que estava de fora leva toda a culpa.


Acho mais honesto e bonito dizer ao meu irmão que desejo que ele seja bem sucedido, que oro e torço por ele, que creio que seja possível um milagre, do que dizer que estou profetizando o que Deus não me mandou profetizar, do que afirmar que vai acontecer o que Deus não disse que vai acontecer. É injusto. É brincar com coisa séria. É usar a boa fé de quem passa por problemas.


O pior é que quando uma profecia não se cumpre, a culpa é sempre de quem ouviu e não teve fé, nunca do profeta inconsequente que profetizou o que não veio de Deus.


Creio que homens falam por Deus, ele já falou comigo através de muitos.Creio que posso cantar o que Deus faz, cantamos nossa história e isso também glorifica a Deus.
O que eu não entendo é essa gigantesca movimentação nas agências dos Correios sem que Deus receba e nem envie uma só correspondência.