terça-feira, 30 de abril de 2013

Pensando na Fé II



Fazia tempo que eu não visitava o blog, já estava na hora de dar as caras.
Estive conversando na Igreja sobre a oração e a fé. Estamos estudando o sermão do monte passo a passo e é muito desafiador assumir o comportamento ditado por Cristo, por ser tão antagônico ao nosso comportamento humano pecaminoso, decaído.

Dói demais assumirmos ser o que somos, reconhecermos o que não somos e incorporarmos com naturalidade o que Deus quer que sejamos.

Jesus disse que nossas orações não deveriam ser como a oração dos gentios, que por incansáveis repetições pensavam que seriam ouvidos. Deveríamos saber que nosso Pai que está no céu conhece nossas necessidades antes mesmo de lho pedirmos.

Qual é o nosso problema?

Vejo a onda da prosperidade, da conquista e do triunfalismo, arrastando multidões para uma busca pela fé e eu pergunto:  Deus me chama para que eu o encontre e Ele cumpra minha vontade, ou eu o encontro e passo ser instrumento da sua vontade?

Os gentios faziam orações longas e repetitivas e achavam que essa insistência lhes traria sucesso em sua busca. De novo me pergunto: Fé é orar muito pra receber, ou é orar pouco por ter a certeza que Deus já sabe o que preciso?

É óbvio que perseverança é um elemento presente em nossa caminhada cristã, mas eu me questiono outra vez: Devo perseverar em viver a vontade de Deus ou perseverar em pedir o que quero até que ele mude de ideia e me conceda a minha vontade?

A mim me parece que todos os dias somos sugestionados a viver uma vida que não é a nossa vida.

O mercado nos sugestiona o que ter e o que comprar. A sociedade me sugestiona um comportamento, um modo de vida. A classe social na qual estamos inseridos nos sugestiona os bares e restaurantes que devemos frequentar. O salário que ganhamos nos sugestiona o carro que devemos ter e o tipo de gente com as quais devemos nos relacionar.  Os amigos nos influenciam, cobram nossas ações e reações e somos sugestionados a ter um comportamento aceitável no clã. Nosso diploma nos sugestiona, nossa idade nos sugestiona, e se essas e muitas outras situações não fossem suficientes ainda somos tentados pela nossa própria cobiça e sugestionados todos os dias e pelo diabo que nos rodeia.

Depois de tudo isso vem a religião, a “malfadada” religião que nos sugestiona a viver, ter, ser e crer em coisas que nem sabemos se precisamos.  Ela diz que seremos opróbrio se não recebermos uma promoção, que não nos sentiremos abençoados se não trocarmos de carro. Ela nos ensina a fazer luta espiritual pra que Deus nos conceda bens, e diz que quando os temos é porque Deus nos honrou e se não os temos estamos em desonra.

Tem coisa pior. Tem a roupa evangélica, a moda evangélica, a música evangélica, os programas evangélicos nas rádios evangélicas e nas Tvs evangélicas. Malharia gospel, restaurante gospel, show gospel, moda gospel, corte de cabelo gospel feito pela cabeleireira gospel. Tem o advogado gospel e o médico gospel. Devo comer na cantina gospel da Igreja e votar em candidato gospel.

Tem bancada evangélica e opinião evangélica, e você tem que engolir.
Gravadora gospel, porto de gasolina gospel. Condomínios evangélicos e cemitérios evangélicos.

Você acha que a religião não nos sugestiona?

Jesus nos livrou da maldição da lei, mas a gente sempre encontra outras pra nos enfiarmos de novo. O conselho de Paulo aos Gálatas precisa ser entendido no seio de nossas comunidades. Fomos chamados para a liberdade, não podemos de novo nos sujeitar a um novo jugo de escravidão.

Deus sabe o que precisamos. O Logos de Deus é tudo que precisamos pra viver. Nossa ansiedade deve ser aplacada pela verdadeira fé na ciência e provisão de Deus. Nossa perseverança em servi-lo deve ser nossa marca. A sua vontade em nós e não a nossa nele, deve ser o nosso desejo.

É bem isso que diz a oração que Ele nos ensinou. Primeiro honrar seu nome, depois desejar o seu reino, depois pedir a sua vontade. Só precisamos do pão de cada dia que alimenta nosso corpo, e o perdão que nos restitui a comunhão e vida.

Sei lá, acho que é isso...

terça-feira, 26 de março de 2013

Disposição e Compaixão



Estava pensando na passagem em que Jesus entra na cidade de Naim e se depara com um cortejo fúnebre. Uma mulher viúva está sepultando o seu único filho. O texto diz que Jesus se compadeceu dela e por isso tocou o menino ressuscitando-o e o restituiu à sua mãe.

Sei que a compaixão não é um sentimento exclusivo de nós cristãos, mas entendo deva ser inerente. Qualquer pessoa no mundo pode se compadecer de seu próximo e também existem pessoas que não tem compaixão alguma. No mundo posso encontrar gente de compaixão e gente indiferente, mas entre nós, corpo de Cristo, a compaixão não pode faltar.

Vivemos num mundo de indiferença e individualidade. O mundo pode ser assim, mas nós não podemos ser assim.

Fiquei pensando no sentimento de Jesus. Ele se compadeceu porque era uma mulher viúva, ou seja, já havia sepultado o marido, e agora sepultava o seu filho único. A vida é dura. Pessoas sofrem todo dia em todos os lugares.

Por conhecer a situação daquela mulher, Jesus se colocou no lugar dela, no lugar de alguém que não apenas viveria na solidão, mas na solidão somada à memória da perda de seu marido e seu filho.

Quem conhece se compadece. 

O problema é que não temos tempo pra nos envolver com o problema de ninguém. Não quero dizer que esta seja uma regra, sei que tem gente que não se importa com ninguém, mesmo conhecendo a dor de seu próximo. Mas falando de gente que tem Deus dentro de si, falando de gente sensível ao que acontece ao seu redor, acho que posso estar certo.

Precisamos nos dispor a conhecer, a entrar na vida das pessoas, a penetrar o raio de ação, sentir o coração de quem sofre. No PAM deste semestre, ouvi uma frase do Ziel Machado que tem tudo a ver com isso:

“Pastorear é habitar a dor alheia”

Sabemos o que é fazer o bem, só resta saber se fazemos porque é nosso papel fazer o bem, ou porque nos sentimos movidos a fazer o bem.

Jesus entrou na nossa vida, entrou no nosso mundo, viveu a nossa realidade. Jesus habita em nós, conhece tudo dentro de nós, sabe bem o que passamos. Ele se dispôs, ele se humilhou. 

Disponhamo-nos a habitar a dor alheia, compadeçamo-nos de quem está ao nosso redor. Sejamos Igreja, sejamos o corpo cuja cabeça é Jesus. O que ele pensa e sente, pensemos nós e sintamos nós.

quarta-feira, 6 de março de 2013

O Remetente e o Destinatário



Não há nada mais “Mr Bean” do que enviar um cartão postal para si próprio e ficar feliz por ter recebido.  Deve ser engraçado você fazer uma lista de elogios e de palavras de incentivo a você mesmo e enviar para o seu próprio email, e depois mostrar para os amigos o elogio que foi recebido como se não tivesse sido feito por você mesmo. Pior ainda será se você chorar e se emocionar por ter recebido a carta ou o email, sentindo-se tocado pelas palavras lindas que foram escritas, como se não fosse tudo feito por você mesmo! Seria tão tolo quanto ridículo.

Jesus contou uma parábola interessante sobre o fariseu e o publicano, e disse:


Lucas 18.10 Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um fariseu e o outro, publicano. 11 O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano.

O fariseu orava de si para si mesmo

O fariseu orava “de si para si mesmo”. Não havia comunicação com Deus, havia uma coincidência, o remetente e o destinatário eram a mesma pessoa.

Um certo orgulho, uma certa prepotência e autossuficiência estavam expressas ali naquela oração.


Olhamos pra essa parábola e achamos que o fariseu em questão agia com hipocrisia, porém isso é muito comum nos dias de hoje.


Muitas músicas hoje fazem as mesmas afirmações, somos gente que canta de si para si mesma o tempo todo. Eu já fiz isso, confesso, perdão Senhor...

Hoje penso em tudo que canto. Coisas tipo “Eu sou vencedor”, “Vou conquistar”, “Vou avançar”, “Deus vai fazer isso ou aquilo por mim”, “Sou importante para Deus”, “Meu testemunho vai impactar o mundo”, me soam como uma música de autoajuda, e não um momento de louvor.

Costumamos chamar isso de louvor, mas o que deveria ser algo vertical, ou seja, de nós para o nosso Deus, na verdade é horizontal, do homem para outro homem, e na maioria das vezes confundindo o remetente com o destinatário, de si para si mesmo.


Entendo que às vezes cantamos versos das profecias de Deus a Israel, e nos enxergamos ali, compreendo que ao cantar o que Deus faz por nós exaltamos seu poder realizador.

Há canções muito lindas que contém testemunhos pessoais que glorificam a Deus. Mas é preciso reconhecer que muitas vezes cantamos que Deus faz coisas que ele não faz, sem saber se ele vai fazer, ou cantamos coisas que ele diz e que na verdade não disse, ou seja, mandamos a carta para o nosso próprio endereço. Colocamos na boca de Deus o que gostaríamos que estivesse lá. Na verdade canta-se de si para si mesmo. Vitórias e triunfos que emocionam, fazem chorar e levam o povo a uma catarse coletiva, mas Deus é apenas um espectador externo, nada chega a ele. Sai da boca do homem para o coração do próprio homem.


Tudo bem, de vez em quando, uma musica ou outra, vá lá, mas o tempo todo...


Valei-me Paulinho da Viola...


“Tá legal, eu aceito o argumento...

Mas não me altere o samba tanto assim

Olha que a rapaziada tá sentindo a falta

De um cavaco, de um pandeiro e de um tamborim...”


Não faça do momento de exaltação a Deus, apenas um momento de ativação motivacional para você mesmo.


E quanto às profecias? A mesma coisa.


Fundamentalmente quem profetiza fala algo que vem de Deus para o homem. O profeta recebe algo que não é dele, não partiu dele, ele é apenas o mensageiro. O pregador prega o que leu e aprendeu de Deus, na palavra de Deus e nas experiências de vida proporcionadas e guiadas por Deus.

Hoje o mais comum é ouvir palavras de ordem como “Profetize”, ou seja “fale o que você quer, que Deus vai fazer por você”.


Vemos na Bíblia profetas que receberam algo de Deus e resistiram em falar. Hoje o homem quer profetizar o que quer e Deus precisa resisti-lo


Quem manda em quem? Deus manda e o homem profetiza? Ou o homem profetiza o que quer, e Deus o obedece?


O remetente e o destinatário infelizmente em muitas situações têm sido a mesma pessoa. Pessoas são ensinadas a profetizar para si mesmas, ou virar para o irmão ao lado e profetizar o que quiser. O pior é que se emocionam, choram, eu já fiz isso!!! Deus do céu! Não foi Deus, foi o homem!!


Se pudermos profetizar o que quisermos e assim obrigar Deus a realizar o que profetizamos, então qual a razão de se ter um Senhor?

Os servos já dão conta do recado. Vamos dar férias para Deus!


O que me entristece é ver uma multidão de feridos e decepcionados contra Deus. Cantaram, profetizaram e creram, e Deus não estava lá. Estão decepcionados contra Deus que não tem nada a ver com isso. Oraram de si para si mesmos. Cantaram de si para si mesmos, profetizaram de si para si mesmos, e Deus que estava de fora leva toda a culpa.


Acho mais honesto e bonito dizer ao meu irmão que desejo que ele seja bem sucedido, que oro e torço por ele, que creio que seja possível um milagre, do que dizer que estou profetizando o que Deus não me mandou profetizar, do que afirmar que vai acontecer o que Deus não disse que vai acontecer. É injusto. É brincar com coisa séria. É usar a boa fé de quem passa por problemas.


O pior é que quando uma profecia não se cumpre, a culpa é sempre de quem ouviu e não teve fé, nunca do profeta inconsequente que profetizou o que não veio de Deus.


Creio que homens falam por Deus, ele já falou comigo através de muitos.Creio que posso cantar o que Deus faz, cantamos nossa história e isso também glorifica a Deus.
O que eu não entendo é essa gigantesca movimentação nas agências dos Correios sem que Deus receba e nem envie uma só correspondência.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

O Paulo, o João e eu.



Esta semana participei do programa de entrevistas “Meia Hora” com João Alexandre na Koinonia on line, um momento especial pra mim, depois de um programa muito agradável, ainda tive a grata surpresa de conhecer o Paulo César (Logos) no final.

O João e o Paulo fizeram parte da minha iniciação musical. O João pela sua história como cantor e compositor, seja na carreira solo ou com o grupo Pescador, ou Milad, ou VPC. O Paulo por tudo que fez com o Elo e depois com o Logos.

A música é uma linguagem universal, sons e palavras nos emocionam e marcam momentos da nossa vida. Quando ouço antigas canções me sinto transportado no tempo. A canção me faz lembrar de onde eu estava quando a ouvi, traz de volta os sentimentos que na época sentia, as pessoas que estavam ao meu redor, a canção traz de volta os mesmos sonhos da época, a mesma inocência juvenil, o cheiro do local e a emoção que impulsionava o coração.

Nenhuma lembrança que guardo da vida na memória pode ser tão bem revisitada como no momento em que ouço a trilha sonora que a embalou. Pra mim, a música encurta o tempo que passou tornando-nos jovens de novo, nos inspira a mergulhar no sonho do seu universo como faz uma criança, e eterniza momentos do coração como se fôssemos imortais. É uma dádiva de Deus ao homem. A melodia, a harmonia e o ritmo estão em todos os cantos da natureza, a poesia está no coração e na boca do homem e a inspiração está no seu íntimo onde o Espírito de Deus o ensina.

Encontrar esses dois caras me fez viajar no tempo como um Marty McFly na máquina de Emmett Brown em “De volta para o Futuro” do século 21. Foi como encontrar pela primeira vez pessoas íntimas que viveram comigo toda a adolescência e juventude através do meu velho Stereo System CCE.

Cada LP de VPC, MIlad, Elo, Logos, Som Maior, cada composição do João, do Paulo, do Guilherme Kerr, do Bomilcar, do Sérgio Pimenta, do Janires, cada entonação da voz de cada um deles, do Jorge Camargo, da Cíntia e da Sílvia, enfim, todo este universo, fez parte da atmosfera do meu crescimento.

Se eu sou saudosista? Quem não é?
O moderno pra mim hoje, será saudade pra mim amanhã. Como bem escreveu Belchior, e muito bem cantou Elis:

“Nossos ídolos ainda são os mesmos
E as aparências não enganam não
Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém”

É assim que eu sinto.

Tem muita gente fazendo muita coisa boa na música hoje. Tem muita gente compondo ainda com poesia e consciência, mesmo no nosso universo musical tão carente de reflexão e teologia. Esses heróis da resistência com certeza fazem parte de uma linhagem nascida talvez na sinceridade e temor do rei Davi, e que passou por estes meus mestres, destacando que ainda estão na ativa e bem ativos. Agora me sinto desafiado e por eles encorajado a fazer parte dessa gente. Gente boa de coração. Deus me ajude todo dia.

Alguém pode pensar que eu seja contra toda e qualquer manifestação musical dos dias de hoje, absolutamente não. Eu me sinto um garimpeiro na margem do rio procurando brincos para os ouvidos e não só para as orelhas, e tenho ouvido muita coisa legal, mas eu não sou crítico, apenas observador.

Não sou o saudosista que se fecha para o mundo de hoje, só não quero ser de um mundo hoje que não tem saudade de sua bela história. A história me faz entender de onde foi que eu vim, me faz ver os acertos do passado pra que eu seja sábio em reproduzi-los, e me aponta os erros cometidos pra que eu nunca os repita.

Esses personagens da minha história me ensinaram muito à distância, e hoje, aos poucos, a história corre no tempo e me alcança pra minha cura. Pensava eu que havia perdido muito tempo, mas “se penso, logo existo”, então ainda vivo pra pensar tudo de novo. Que bom.

Agradeço a vida por estas oportunidades, e agradeço a Deus pela graça que me deu a vida.

Confira - http://www.koinoniaonline.net/meiahora/meiahora_19.htm

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Ainda há tempo



"Os meus pais sempre pareceram ter a mesma idade, sempre os olhei e aparentavam ser imutáveis até que de repente, não sei por que, notei que envelheceram."

"Os meus filhos sempre pareceram pequenos sempre com o mesmo jeitinho infantil e indefeso, até que de repente, não sei como, percebi que cresceram."

"Sempre me senti o mesmo, do mesmo jeito, imutável, insistentemente jovem até que de repente, numa investida esportiva qualquer, percebi que o tempo tinha me feito mais velho."

Essas frases fazem parte do nosso envelhecimento, e as ouvimos sempre. Engraçado, o tempo e sua relatividade.

Isso me fez pensar que só começo a perceber o efeito do tempo no dia em que começo a ter consideração pelo que me cerca.
Não sou filósofo, e sei que nem tudo acontece da mesma forma pra todo mundo, mas no meu caso que vivi uma história de correria desvairada, de trabalho insano, foi bem assim. Coisas e pessoas pareciam não envelhecer porque eu não me importava com elas, simplesmente não faziam parte das minhas preocupações, quando percebi que realmente eram importantes, elas simplesmente se foram.
Eu penso que enquanto aquilo que eu vejo não fizer parte do meu mundo, não fizer parte dos meus interesses, sempre me parecerá imutável, falsamente eterno, até eu mesmo.

Corremos como loucos pra ter muito na vida e perdemos o melhor da vida que deveria ser muito pra nós.

Eu pensei: “Me preocupo com todas as coisas que sempre existirão e sempre terei tempo pra elas, enquanto as que realmente importam passam sem que eu perceba.”

Isso é verdade, você se preocupa com o comércio que sempre estará aí, com a sua profissão que existia antes de você e continuará a existir depois da sua partida. Você se preocupa com o dinheiro que sempre existiu e sempre existirá. Você se preocupa com a sua carreira, com o consumo, com a ilusão das coisas que nunca deixarão de existir, você sempre terá tempo pra elas, enquanto aquelas que passam, e nunca mais voltarão, ficam congeladas no tempo do universo do seu desprezo.

Aquilo que não me importa, parece que sempre estará lá, imutável, do mesmo jeito, quando enfim acordo e vejo que é importante, e descubro que posso perdê-lo, aí então parece que o tempo decide correr da noite para o dia tudo que não correu antes. Pura ilusão temporal. São os fantasmas da aceleração do tempo que me atormentam, e trazem com eles a tristeza de ter passado por tudo que não percebi que vivi. Parece que pra compensar o tempo do descaso que vivi, o próprio tempo acelera e passa rápido me punindo, pois agora decidi me importar.
O tempo vai passar sempre, é impossível detê-lo, pena que só percebo que passou, quando se foi. Todas as coisas na nossa vida passarão, podemos escolher se queremos passar cada segundo com elas ou apenas perdê-las da noite para o dia como se passassem num piscar de olhos. A vida passa e precisamos passar por ela junto das coisas que Deus nos deu, e que realmente importam.

Bom é passar o tempo passando por tudo que o tempo me dá a dádiva de passar. Bom é passar o tempo cuidando de tudo que Deus me dá a dádiva de cuidar, meu lar, minha família, meus filhos, meu ministério, e inclusive de mim mesmo.

Só tenho hoje pra viver o hoje. Mesmo que eu não perceba, já vivi o ontem, e se não acordar, nem vou notar quando viver o amanhã.

Nunca seremos mais nem menos por ter o que mundo diz que precisamos ter, mas seremos com certeza mais felizes se vivermos a vida da maneira que Deus desejou que vivêssemos.
Nunca permita que o tempo passe sem que você perceba que ele está passando pra tudo que é importante pra você, sem que você passe tudo que Deus te deu junto com ele. 

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Pensando na fé



Jesus nos ensinou a não andarmos ansiosos. A inquietação nos consome. Acredito que este seja um dos maiores desafios do cristão, ter fé. Não sei se você pensa como eu, mas acho que a fé em Deus pode livrar uma pessoa da ansiedade, e se a fé nos livra da ansiedade, não é maluco pensar que há pessoas vivendo uma fé que as deixa ansiosas na espera do que Deus vai fazer?
Sempre achamos que fé é acreditar em algo impossível, e é verdade, isso também é fé, mas eu penso que a fé é algo muito maior do que acreditar que posso receber o que quero, ou acreditar que Deus vai me dar o que preciso. Pra mim fé também é descansar e acreditar que posso viver sem o que acho que preciso, pois Deus cuida de mim.

É engraçado, temos fé pra que Deus nos dê o que precisamos, mas não temos fé pra crer que podemos viver sem o que pensamos que precisamos...

Eu pergunto - Fé é acreditar que Deus pode me dar o dinheiro que preciso, ou acreditar que Deus pode me fazer vencer sem o dinheiro que acho que preciso?

Quando lemos na Bíblia que o justo viverá pela fé ficamos incentivados a continuar crendo, pois é assim que o justo vive, mas cabe a pergunta:
Crendo em que?
O justo viverá pela fé em Deus e nos planos de Deus e não nos seus próprios. Esse é o nosso desafio, crer que Deus é bom e faz coisas boas, se isso é verdade, então o que eu estou vivendo não deve ser ruim, deve ter um bom final, pois Deus só faz coisas boas.

Fé é também o nosso jeito de viver. Dependemos de Deus, obedecemos a Deus, aceitamos o modo de vida que o evangelho nos propõe. Desejamos ter o fruto do Espírito em nossas atitudes. Fé é saber que posso viver do jeito que Deus quer, sem tomar caminhos alternativos, na certeza que minha felicidade estará aí.

Tem gente que tem fé pra receber o que quer de Deus, mas não tem fé pra fazer o que Deus quer que façam.

Ser um cristão de sucesso nos dias de hoje é ter o poder através da fé de fazer Deus realizar tudo que se deseja, como se Deus fosse uma máquina a favor da vontade do homem e a fé fosse a chave que liga essa máquina. Quem pensa assim se esquece de que Deus tem vontade e propósito, em também se esquece de que Deus é senhor e nós somos servos.

Há muita gente frustrada, pulando de religião em religião tentando achar qual é o método religioso que faz Deus funcionar a seu favor. Não distante disso, há muita gente pulando de igreja em igreja tentando achar qual é a igreja mais poderosa pra fazer Deus lhe obedecer. A propaganda mostra gente feliz com carros na garagem, promoções no trabalho e conquistas indiscutíveis que fazem daquela instituição o lugar certo onde Deus responde a tudo e a todos, e é ela que você deve escolher. Acho que não é isso...

Na aflição busco a Deus. Na angústia clamo ao Senhor. Na dor me refugio no altíssimo. Na dúvida espero sua direção. Só quem já sofreu sabe o valor da fé. Nunca deixe de crer em Deus, mas faça de sua fé um ato de dependência e confiança nunca um ato de cobrança ou de autoritarismo.

Devo crer que Deus pode me socorrer? Claro que sim
Devo crer que Deus pode curar alguém? É óbvio que sim
Devo ter fé que minha vida será uma vida feliz com Deus? Lógico que sim.
O que não posso é achar que a minha fé transformará Deus num ser obediente à minha vontade.

Nunca deixe de crer que Deus se fará presente em suas dificuldades, nunca deixe de crer que Deus pode fazer milagres em responder suas orações, mas nunca esqueça que o Deus Pai sabe tudo que precisamos, e que uma resposta diferente do que você pensou, não implica num resultado diferente do que o que você necessita.

Penso que Deus sempre fará o que preciso, mas nem sempre o que quero, pois nem sempre o que quero é o que realmente preciso.

A resposta de Deus pode ser contrária ao que pensei, mas o propósito de Deus nunca será contrário à minha felicidade.

Hoje, uma religiosidade mesquinha e materialista, que aponta conquistas e prosperidade como o único sinal da presença de Deus, o que se prega é que a fé é uma chave pra fazer Deus servir ao homem, mas na verdade a fé é uma convicção que leva o homem a servir a Deus.

Pense um pouco na sua fé.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O Milton Nascimento não pensava em nós


Assisti ao programa “On The Record” do canal Bis com John Mayer, um programa de entrevistas apresentado por Touré Neblett.

Gosto do John Mayer como guitarrista e bluesman, ele me faz às vezes pensar que estou ouvindo um blues pop e clássico texano ao mesmo tempo, e com requintes de Stevie Ray Vaughan. A carreira Pop de John Mayer não me agrada muito, mas isso é apenas a minha opinião, o cara é uma celebridade, deve estar certo e eu errado seguramente. Que bom que não sou o dono da verdade, o mundo fica bem melhor assim...rsrsrs

Voltando ao assunto, gosto muito de ouvir compositores falando sobre suas inspirações, gente que compõe falando no que pensava enquanto compunha, ou o que pensava antes de compor. Gosto muito de filosofar sobre o acaso que levou o poeta a descobrir sabedoria e transformá-la em arte digerível para a comunidade de admiradores. Gosto da contribuição que o compositor dá à humanidade através dos devaneios de sua reflexão. Gosto de gente que compõe e fala com as minhas emoções e com a minha razão ao mesmo tempo. Gosto de gente que sente o que fala, tanto quanto pensa antes de falar. Pra mim, a inteligência de quem escreve, é tão importante quanto a emoção contida no que escreveu. Pra dizer a verdade só me emociono com o que entendo. Recomendo este programa com John Mayer e o programa com David Gray, outro compositor e cantor britânico que admiro.

Não sou o tipo de cara que procura sons, tons ou palavras que o povo goste de ouvir, estou sempre à procura de melodias e palavras que possam expressar o que eu quero falar, independente de quem vá ouvir.

Nesta entrevista, John Mayer disse algo com o qual me identifiquei. Touré perguntou se a vida e as coisas que o rodeavam, faziam parte do seu universo inspirador, John Mayer disse que sua humanidade, seus erros e acertos, enfim, tudo, fazia parte de seu universo de inspiração, tudo vem da observação e do coração, disse ele: “Se você fechar o seu coração, você não será mais capaz de fazer música, apenas fazer gravações”.

Achei isso fantástico!

Nossa música cristã está amparada por um sem número de congressos que ensinam “adoradores” a “adorar”, que ensinam líderes de louvor a levar o povo a louvar. Não sou contra isso, absolutamente, tudo é necessário, mas sinto falta da filosofia da coisa. Temos uma prateleira cheia de opções musicais pra nossa Igreja cantar no domingo, são milhares, ou milhões de CDs lançados todos os meses, e sinto falta de algo que me soe novo.

Alguém faz uma música sobre “Estar apaixonado por Jesus”, não faço juízo de valor, julgo ter sido uma experiência genuína individual de alguém, mas porque fez sucesso, o Brasil é invadido por uma avalanche de músicas sobre estar apaixonado. Uma música sobre a Chuva de Deus faz sucesso, de repente, é enchente de Manaus a João pessoa, de Brasília a Porto Alegre, toda Igreja grava um DVD sobre a chuva. Uma música sobre Restituição, e todos os compositores do Brasil recebem a mesma inspiração no dia seguinte.

Estamos em busca da inspiração perdida ou da fórmula do sucesso?

O sucesso não é pecado, mas ele vem depois da arte feita, não é produzido por antecipação.
Quero ser Lennon/McCartney, e não Fernando/Sorocaba. Nada contra o sertanejo nem contra dupla em questão, apenas nomes que me vieram à mente, mas quero ser inspirado pelo que me faz sentir, entender e viver, e não inspirado pelo sucesso de alguém pra ter o que o “bem sucedido” tem.

No mundo inteiro há compositores tentando achar a fórmula do sucesso, o elixir da aceitação pública, o caminho místico que leva ao Grammy, cada dia uma tentativa nova acontece. O pior é que dá certo, o povo gosta!!!

Lererê Lererê, é o tchan, eu quero tchum eu quero tchá, tchêtchererêtchetche fulano de tal e você!
Eu entendo...todos querem dar certo...vá lá...normal.

Meu consolo matemático é que por mais longeva que seja a manifestação, um dia o limite estatístico das combinações possíveis do alfabeto ocidental colocará um ponto final nessa onomatopeia. É a redenção que espero. Se não viver pra isso, pelo menos usei e abusei da liberdade de escolha individual do ser humano.

Eu sei o que você vai me dizer, o mundo musical não existe pra mim, a música é de todos, eu sei, é apenas o meu direito de falar e ouvir. Quem mandou acessar este blog...rsrsrsrs

Não estou dizendo que sou bom, ou certo, e o resto errado, ou ruim, apenas aqui quero revelar como penso e sinto, e de alguma forma compartilhar com alguns, o que julgo ser importante. Não sou o dono da verdade, ao contrário do rei Roberto, esse cara não sou eu!

É comum ver na terra gente que tenta achar a fórmula, é normal acontecer com quem só quer a fama, tudo bem...mas não conosco! Não com a gente, não com quem tem uma contracultura, não com quem tem o evangelho, não com quem deve apresentar a Deus um culto racional, não com quem deveria pensar pra falar e sentir pra compor. Não podemos nos auto-plagiar, não estamos procurando o que dá certo, já temos o que dá certo, precisamos desenvolver a nossa arte.

Não sou contra o mercado, nem contra o sucesso, nem contra o comércio, eles são amorais, imoral é o homem, é quem se move neles, e do jeito que se move neles.

“Se você fechar o seu coração, você não será mais capaz de fazer música, apenas fazer gravações”.

Penso que temos muitas gravações.
Penso que tem muita gente gravando e poucos compondo.
Penso que o mundo não sabe, mas espera pelo que temos a dizer.
Penso que temos muito a dizer
Penso que temos que pensar antes de dizer
Penso que temos preguiça de pensar
Não quero pensar que somos incapazes de pensar
Penso, logo existo.
Se penso mal sou uma aberração da existência
Mas se penso bem, penso que pode existir uma saída pra nós.

Certas canções que ouço
Cabem tão dentro de mim
Que perguntar carece
Como não fui eu que fiz
Certa emoção me alcança
Corta minha alma sem dor
Certas canções me chegam
Como se fosse o amor
Contos da água e do fogo
Cacos de vidas no chão
Cartas do sonho do povo
E o coração do cantor

Vida e mais vida ou ferida
Chuva, outono ou mar
Carvão e giz abrigo
Gesto molhado no olhar

Calor invade arde queima
Encoraja amor
Invade arde carece de
Cantar amor . . .

- Cê tava cantando pra gente Milton?...Tava pensando em nós?...Não?...Que pena...